As palavras-chave que identificam o projeto Peabiru Territórios do Paraná: comunicação, arte, e gestão da memória implicam em seu conjunto, num processo intercultural que traduz a interface entre processos de cidadania e a inclusão de paisagens periféricas às estratégias sustentáveis de produção comunicacional e artística. Aqui paisagem é considerada como fluxo permeável de transformação e não como algo estático e panorâmico, mas como movimento que produz identificações com quem por ali passa e reside. A paisagem é portadora de memórias e também passível de renovação a partir das estruturas concretas e das relações entre arte, sujeitos, tempo e espaço. A paisagem se constitui como narrativa. Portanto, mais do que pensar estruturas físicas de desenvolvimento e melhorias de assentamentos urbanos, é importante priorizar junto às necessidades de saneamento e pavimentação, saúde e iluminação, também os direitos culturais e da livre expressão. Em regiões de pobreza, cada vez mais extensas em pequenas e médias cidades do Paraná, muitas vezes os elementos que qualificam um território e configuram uma paisagem são invisíveis a uma primeira mirada. E é nesse sentido que pretendemos atuar, entendendo os direitos culturais como fundamentais, e diante dos quais o projeto Peabiru territórios do Paraná atravessa diferentes bairros de Foz do Iguaçu e se coloca a disposição para criar e fortalecer redes criativas e difundir a cultura latino-americana, como na Vila C e na ocupação Bubas. Este último um bairro que se encontra em um contexto de transição entre a regularização das moradias, após disputa de judicial que concedeu aos moradores o direito de permanecer no local.
A Peabiru é uma revista multimídia e colaborativa sobre cultura latino-americana criada para pôr em circulação a diversidade de vozes e interpretações sobre a região. Produzida há 8 anos em Foz do Iguaçu, área de fronteira, a revista insere o estado do Paraná na agenda da temática cultural Latino-americana. Desde 2011, a Revista Peabiru já publicou mais de 20 edições e inseriu em suas páginas a colaboração de autorias de diferentes países da América Latina, inscrevendo uma interpretação tecida por muitos olhares sobre o que significa essa cultura, e fortalecendo o vínculo da fronteira trinacional com a pluralidade da identidade latino-americana. A diversidade de autorias e conteúdos sobre essa região multicultural revela um lugar comum aos povos desse continente: a cultura latino-americana como forma de resistência. Textos, ilustrações e fotografias trazem a perspectiva dessa cultura como um campo de lutas e reivindicações de indígenas, negros, mulheres, comunidade LGBTTQ+, campesinos, todos atravessados por processos seculares de colonização e domínio da política neoliberal dos países ricos. E é através dessa resistência que essa cultura dos povos emerge nas páginas da Peabiru, pois o domínio cultural e a imposição de uma sociedade global homogeneizada tende e invisibilizar as riquezas das culturas locais e suas diversas formas de representações. Num movimento por reconhecer as expressões e modos de vida que não se apagam pelo sistema estrutural de exploração que devemos abrir espaço para a nossa pluralidade desde olhares e expressões locais e compreendê-los como constituintes da nossa cultura latino-americana. Expressões tão fortes e singulares que ilustram a liberdade e ancestralidades dos corpos, dos territórios, dos setores populares, dos povos originários e dos modos de ver e traduzir o mundo, e que parecem perdurar, mesmo quando a correlação desigual de forças desapropria essas manifestações de seus próprios territórios. Ainda assim, essas manifestações tradicionais e contemporâneas seguem cultivando e reinventando o eixo da interculturalidade que nos torna Latino-Americanos.
A proposta Peabiru Territórios do Paraná, contudo, é uma releitura do projeto que vem sendo desenvolvido há alguns anos e nesta edição surge em parceria com outras ações que se desenvolvem pelos bairros da nossa cidade, como o projeto Memórias Subterrâneas que atua com o resgate da memória dos trabalhadores que atuaram na construção da Usina de Itaipu e ainda residem na vila C, para formar uma rede criativa e diversa de autorias nos bairros de Foz do Iguaçu. Trata-se de iniciar o processo criativo antes da tradicional convocatória de conteúdos, formando autorias periféricas, que geralmente não estimam ou possuem afinidade com processos de produção e circulação midiática. A releitura do projeto surge a partir das múltiplas linguagens já trabalhadas pela peabiru, e também pela inserção de outros formatos como a intervenção na paisagem urbana e a criação de exposições do acervo da revista e de conteúdo que será coproduzido com os moradores, tanto na comunidade como nos canais online da Peabiru. Um processo criativo que prioriza a convergência e a troca de experiências entre a equipe e a população dos bairros periféricos de Foz do Iguaçu no desenvolvimento da arte e da comunicação midiática como uma proposta estética intercultural e contra-hegemônica. Nesse processo, a participação dos moradores se desenvolve referenciando e conformando elementos da memória cotidiana nos processos criativos de elaboração de conteúdos para a revista, de mostras fotográficas, audiovisuais, de instalações de paineis em murais e lambe-lambe como propostas de novos formatos e linguagens para intervir nos espaço urbano e incentivar a participação e potencializar a colaboratividade.
discentes, docentes e TAES
moradores dos bairros populares de Foz do Iguaçu Vila C e Ocupação Bubas
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